"Eu quero
ser sua canção, eu quero ser o seu tom(...)eu quero ser o sol que entra no seu
quarto adentro, te acordar devagarinho, te fazer sorrir. Quero estar na maciez
do toque dos seus dedos(...). Quero ser a coisa boa, liberada ou proibida, tudo
em sua vida".
E quando eu a avistei,
ela estava de preto. Um sorriso estridente, nada forçado. Não estava lendo, nem
usando aquela blusa do Ramones. Estava só parada. Tão elegante. Uma bolsa de
lado. Óculos escuros tirados com a mão direita, trejeitos com os dedos com
unhas em vermelho tapete. Morena como eu, mas cabelo tingido de um laranja
avermelhado, ou vermelho alaranjado, não sei bem. Temos o mesmo queixo e nariz.
É incrivel como ela tem tanto trabalho e ainda consegue ser tão mulher, ser
mãe. E como eu a amo, e como eu a conheço. É de admitir porém que eu não a
conhecia na infancia, ela aparecia e desaparecia e eu já não a via mais, mas
surpreendeu-me um dia conhecer alguém que mora na mesma casa. Ela e seu
telefone. Sempre assim, e simplesmente parecia que naquilo não faltava assunto.
Mas eu a apreciava e dizia a mim mesma: -Quando crescer quero ser igual a
mamãe.
Bem, hoje muitos
me confudem com ela. Mamãe. Sempre dizendo coisas como:"Eu avisei",
ou "Isso é porque você dorme pouco", ou "Nunca pensei que esse
dia fosse chegar", ou "Você é muito esquecida,desastrada" ou
"Peça a seu pai". Mamãe é, e não é. Ama perguntar os detalhes, como
foi, quem foi, o que disse, onde, por quê. Protetora com a justificativa que
'seguro morreu de velho'. Mas só ela que não fica velha. Não mesmo. As vezes o
olhar perdido. As vezes concorda comigo,
as vezes não. E o sorriso, é sempre o mesmo, mas por que sempre me surpreende?
Não é minha mãe,
é minha mamãe. E com isso devo-lhe mais
além do que meu respeito, devo-lhe o meu melhor. Vou lembrar sempre, separe os
talheres, use pouco detergente, não mexa muito nos cabelos, guarde os brincos e
a sandália, não roa as unhas, aliás não fique com o dedo na boca, isso não é
coisa de moça. Seja discreta. Não amasse o vestido. Não seja antipática nem
simpática demais, sem exageros. Leia as
revistas do mês. Seja feminina e endireita esse andado. Fale baixo. Cumprimente
seu avô. Não fique se riscando. Não seja intrometida. Comunicação é tudo.
Levante os ombros. Passe o protetor solar. Sem celular na hora das refeições.
Cuidado com as conversas, e isso, e aquilo. Coisas das quais eu vou sempre
precisar, e que foi o que basicamente ela me ensinou. Ela me cuida e
repreende, mas francamente nem sempre ela me entende, e mais uma vez,
sinceramente ela é a melhor parte de mim.
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