Brigar com você é tão pior quanto todas as piores coisas do mundo. Coisas piores como dor de cabeça, como ter fastio, como gastrite, como bater o dedo mindinho do pé na ponta da cama. Como machucar-se sem querer. Como perder algo de importante bem em cima da hora, como chegar atrasado. Brigar com você é tão doloroso quanto uma ferida. Brigar com você, incomoda mais do que cisco no olho, mais do que unha encravada, mais do que porta sem chave, mais do que barulho insistente, mais do que insônia, mais do que sapato apertado, incomoda mais do que propaganda politica, mais do que certos chefes, mais do que sono nas horas que queremos estar acordados, incomoda mais do que dor de ouvido.
Brigar com você é tão mais agonizante do que ter que esperar uma fila enorme, quanto ter que suportar alguém, quanto não ser capaz de entender algo. Brigar com você é tão ruim quanto ter que mentir ou esconder porque se tem medo da verdade. Brigar contigo é difícil como Química é difícil pra alguns de nós, seus conceitos isóbaros, isótonos ou isotopos. Como divisão de números complexos. Ou a dificuldade maior ainda que é ter que aceitar certas verdades, e superar barreiras.
Brigar contigo é tão patético quanto roteiro de novela mexicana, tão ridículo quanto maquiagem borrada, alça de sutiã aparecendo, mulher de bigode, blusa de xadrez rosa, orelhas muito grandes, meninas exageradas no jeito como tratam da aparência e trejeitos, caneta sem tampa ou toda mastigada, piada sem graça.
Brigar com você é péssimo como cair da cadeira, derrubar algo de vidro no chão, quebrar a ponta do lápis, coceira na cabeça, sentir muito frio ou calor, falar demais, trabalhar em hospital, ser desatualizado, amassar sem querer, poeira nos olhos, pagar mico...
Enfim, brigar com você é a infelicidade de brigar com tudo de forma desnecessária, fatigante e sem explicação.