quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Lady Laura



"Eu quero ser sua canção, eu quero ser o seu tom(...)eu quero ser o sol que entra no seu quarto adentro, te acordar devagarinho, te fazer sorrir. Quero estar na maciez do toque dos seus dedos(...). Quero ser a coisa boa, liberada ou proibida, tudo em sua vida".

E quando eu a avistei, ela estava de preto. Um sorriso estridente, nada forçado. Não estava lendo, nem usando aquela blusa do Ramones. Estava só parada. Tão elegante. Uma bolsa de lado. Óculos escuros tirados com a mão direita, trejeitos com os dedos com unhas em vermelho tapete. Morena como eu, mas cabelo tingido de um laranja avermelhado, ou vermelho alaranjado, não sei bem. Temos o mesmo queixo e nariz. É incrivel como ela tem tanto trabalho e ainda consegue ser tão mulher, ser mãe. E como eu a amo, e como eu a conheço. É de admitir porém que eu não a conhecia na infancia, ela aparecia e desaparecia e eu já não a via mais, mas surpreendeu-me um dia conhecer alguém que mora na mesma casa. Ela e seu telefone. Sempre assim, e simplesmente parecia que naquilo não faltava assunto. Mas eu a apreciava e dizia a mim mesma: -Quando crescer quero ser igual a mamãe.

Bem, hoje muitos me confudem com ela. Mamãe. Sempre dizendo coisas como:"Eu avisei", ou "Isso é porque você dorme pouco", ou "Nunca pensei que esse dia fosse chegar", ou "Você é muito esquecida,desastrada" ou "Peça a seu pai". Mamãe é, e não é. Ama perguntar os detalhes, como foi, quem foi, o que disse, onde, por quê. Protetora com a justificativa que 'seguro morreu de velho'. Mas só ela que não fica velha. Não mesmo. As vezes o olhar perdido.  As vezes concorda comigo, as vezes não. E o sorriso, é sempre o mesmo, mas por que sempre me surpreende?

Não é minha mãe, é minha mamãe. E com  isso devo-lhe mais além do que meu respeito, devo-lhe o meu melhor. Vou lembrar sempre, separe os talheres, use pouco detergente, não mexa muito nos cabelos, guarde os brincos e a sandália, não roa as unhas, aliás não fique com o dedo na boca, isso não é coisa de moça. Seja discreta. Não amasse o vestido. Não seja antipática nem simpática demais, sem exageros.  Leia as revistas do mês. Seja feminina e endireita esse andado. Fale baixo. Cumprimente seu avô. Não fique se riscando. Não seja intrometida. Comunicação é tudo. Levante os ombros. Passe o protetor solar. Sem celular na hora das refeições. Cuidado com as conversas, e isso, e aquilo. Coisas das quais eu vou sempre precisar, e que foi o que basicamente ela me ensinou. Ela me cuida e repreende, mas francamente nem sempre ela me entende, e mais uma vez, sinceramente ela é a melhor parte de mim.